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CAMPO & CIDADE

Planta certa para o lugar certo

Jardinocultura, eis uma atividade instigante. E o paisagismo, então. Ambos milenares por excelência. Irmãos gêmeos das belas artes. Desde que o homem começou a domesticar as plantas e a cultivá-las, primeiro com intuito alimentar, obviamente. Percebendo, no entanto, outros proveitos, entre as quais a beleza – cada vez mais se apega a elas. Flores, folhas, caules e o porte, tudo à luz da estética.

O Jardim de Éden imortaliza o feito. Ambiente ideal: pomar, horta e, certamente, muitas flores. Mas, eis que o homem não satisfeito,
segundo a Bíblia, ao desobedecer às ordens do Criador passa a depender do suor de seu próprio rosto. E, com isso, passa a estuda-las e cultivá-las, um senhor desafio. Nasce, assim, a ciência.

Claro, todo o drama é atribuído à serpente: a raiz de todos os males do mundo ao que parece. Primeiro Eva cai na tentação, e em
seguida Adão. Uma curiosidade: a palavra Adão quer dizer humus. Em síntese: terra boa.

E a palavra jardim de origem hebraica: gam (proteger, defender) e Eden (prazer, delícia) expressa de forma incólume virtudes, local de
acolhimento, prazer. Delícia, portanto.

Notável, o famoso Jardim Suspenso da Babilônia, uma das sete maravilhas do mundo antigo. O Império Babilônico incentivou a arquitetura paisagística e a jardinagem. Alvissaras!

Os europeus adentrando no Oriente Próximo e no Egito abriram as portas para a arte e a técnica de cultivar plantas ornamentais e flores, introduzindo-as no velho continente. A Grécia – como polo comercial e com o helenismo - a porta de entrada.

Na França se destaca o Parque Versailles. O grande paisagista André Le Nôtre, gradativamente, transforma a área pantanosa entorno
do palácio de Versalles em frondoso jardim. Beleza ímpar, um dos mais belos do mundo. Geométrico, e em níveis diferenciados. Cercas vivas e pomares, e contornos definidos. Podas impecáveis.

Do lado do Canal da Mancha, os ingleses inovam. Prospectam novas formas. Privilegiam linhas curvas. Vegetação faustosa. Contrastam as escolas, sem, no entanto, perder, a originalidade. Ao contrário, potencializam ambientes deslumbrantes e acolhedores.

Há escola oriental, contemplativa. Pontilhões, bambus e lagos harmonicamente distribuídos configurando o ambiente. Ambiente de
paz, de meditação. E a escola italiana, que mescla estátuas, escadarias e cascatas. Ritmo das águas. Rufar das aves e de atrevidos peixes salteadores.

E, poderíamos falar também da escola alemã, sobretudo pragmática: o jardim, além de flores e plantas ornamentais, espaço para o
cultivo de plantas medicinais e aromáticas e frutíferas. Pomar dos deuses e das deusas e dos amantes da natureza. E não há como ignorar a influência da civilização árabe (mouros) em terras ibéricas. Clima árido, jardins tropicais. Cactos e vasos dominantes.

E a escola brasileira... Podemos nos referir a ela. Certamente, que sim. Embora grande parte da mesma provenha da influência europeia. Dom João VI quando no Brasil (1808) trouxe consigo notáveis paisagísticas. O fruto dessa presença: o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A escola Argentina é igualmente notável, especialmente no que tange a parques. A maioria projetados por paisagísticas franceses.

Mas, sem dúvida, há um divisor de águas no paisagismo brasileiro a partir da genialidade de Roberto Burle Max. Focado na flora nativa, e, em seu sítio, próximo ao Jardim Botânico, forma uma coleção única e singular, com repercussão mundial. Pintor, paisagista e intelectual de reconhecida competência. Agregador por excelência.

Raul Cânovas - paisagista de nomeada -, segue esta pegada: sempre introduz alguma espécie nova em seus projetos.

Como vemos, a jardinocultura, antes de tudo é uma arte e uma técnica e, sobretudo uma ciência, pois demanda pesquisa permanente. E, sobretudo acuidade. Perspicácia.

Na obra: Mundo Natural, Thomas Kheit aponta os caminhos do paisagismo na Inglaterra. E, em Inteligência das Flores, Maurice
Maesterlinck – prêmio nobel de literatura(1951) -, descreve em detalhes a maravilha do que é florir: expressão apaixonada da mãe-natureza.

Raul Cânovas chama a atenção de paisagistas e jardinistas quanto à escolha das plantas. A escolha certa. Publicou um clássico: Planta Certa Para o Lugar Certo. Textualiza mais de duas mil espécies testadas e aprovadas. Tanto para o exterior quanto para o interior; e isso importa, e muito.

Belos jardins, eis um eterno ou desafio para paisagista e jardinista e, sobretudo para os aficionados pelo belo: movimentos e cores, aromas e sabores. E por que não, paladares!

Roland Bartz despretensiosamente já afirmará: - “Para se viver bem não se precisa de muita coisa, apenas um pouco de saber, um pouco de sabedoria e muito sabor”.


Onévio Zabot
Engenheiro Agrônomo

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